

Um ano e meio após a sua eleição como presidente do Vitória SC, Emílio Macedo da Silva faz um extenso e pormenorizado balanço desta primeira metade do mandato. Uma subida de divisão que ajudou a recentrar os objectivos do clube no futebol profissional, um espantoso terceiro lugar na Liga Bwin e a aposta europeia do Vitória, com a participação na terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões, são joias de uma coroa que não cabe na cabeça de qualquer um. É um presidente que já fez o suficiente para ficar na história do clube mas que mantém o sonho de fazer ainda mais. A entrevista com o presidente do clube, em exclusivo para o site, passando a pente fino alguns dos assuntos mais sensíveis da actualidade vitoriana e transversal a todo o clube.
Comecemos exactamente pelo início. Lembra-se qual foi o impacto que teve quando se começou a aperceber da real situação do Vitória?
Antes de assumir a minha candidatura já sabia, em traços gerais, como o clube se encontrava. Isto porque me foi explicado claramente o momento do Vitória em termos financeiros, cujo cenário não era nada optimista, muito pelo contrário. Não foi, portanto, uma grande surpresa para mim ter encontrado o Vitória da forma como o encontrei. Tem sido uma tarefa bastante difícil gerir este «barco», tão só porque não é de um momento para o outro que vamos conseguir resolver os graves problemas financeiros que o Vitória arrasta consigo.
O que é que esta Direcção já fez de substancial durante este ano e meio de mandato de forma a resolver, primeiro, os problemas mais urgentes e, ao mesmo tempo, dotar o clube de alguma estabilidade?
Julgo que fizemos um trabalho, ao longo destes 18 meses em que estamos à frente dos destinos do Vitória, muito aceitável. Contudo, aquilo que de mais preponderante poderá ser apontado foi a subida de divisão. Penso que se o Vitória se mantivesse mais dois ou três anos no segundo escalão não conseguiria recuperar-se financeiramente para fazer face aos compromissos que diariamente surgem numa Instituição com a enorme dimensão do Vitória Sport Clube. O Vitória é um clube que tem uma estrutura de custos fixos bastante pesada. Até pelas infra-estruturas que possui iria ser bastante complicado ao Vitória afastar-se do abismo em que se encontrava. Sobretudo porque deixava de ter acesso a receitas que agora tem e que reequilibram os pratos da balança. Era difícil, para não dizer impossível, suportar o Vitória sem receitas televisivas e demais patrocinadores que agora se colocam ao nosso lado.
Chegou a colocar «as mãos na cabeça» quando se deparou com tantas dificuldades financeiras e, simultaneamente, ter essa necessidade premente de colocar o Vitória no escalão maior?
Sempre soubemos o que valíamos e o que conseguiriamos fazer no imediato. A nossa grande preocupação sempre foi alcançar a subida de divisão para, como disse anteriormente, garantir a sobrevivência do Vitória em termos futuros. Conseguimo-lo com alguma sorte, é verdade, mas também à custa de muito trabalho. Para mim esse foi o feito fundamental deste ano e meio de mandato. A situação era mesmo precária e, ainda hoje, temos dificuldades que nos surgem por via dessas dificuldades. Não estamos cheios de dinheiro, bem pelo contrário. Temos conseguido cumprir os nossos deveres e compromissos mas, acima de tudo, é bom que se saiba que a vida financeira do Vitória não tem sido nada fácil. Em termos desportivos, a subida de divisão foi fulcral, assim como a manutenção da maior parte dos jogadores dessa equipa.
Essa foi uma aposta arriscada? Faltava experiência de Primeira Liga…
Penso que não. Sou da opinião de que não é acertado destruir um plantel que tão bons resultados conquistou. É verdade que muitos deles nunca tinham jogado ao nível de agora, mas era somente isso que lhes faltava. Era-lhes reconhecida qualidade indiscutível e a experiência ia sendo adquirida ao longo da competição. Veja-se que o Vitória chegou a jogar, no final do último campeonato, com sete jogadores da segunda divisão no onze inicial! Foi importante manter a estrutura e foi esse o segredo do sucesso. Este ano optámos pelo mesmo caminho, mexendo pouco na base da equipa e dotando-a de um outro elemento para colmatar a saída de dois jogadores que não tivemos hipóteses de segurar.
Está a falar de Geromel e Alan…
Certo. Gostava de os ter no Vitória mas, por motivos diferentes, não foi possível a sua continuidade. Se me perguntarem se foram inevitáveis, eu respondo-vos que sim mas não nego que gostava muito de os ter mantido aqui por, pelo menos, mais um ano. Mas o futebol é assim e obriga-nos a olhar sempre em frente. O importante foi conseguido: continuar com a mesma base que nos deu e esperamos que continue a dar grandes alegrias aos vitorianos.
As pessoas, no fundo, têm que perceber que o Presidente do Vitória não é só um vitoriano. É também um gestor. Em cada uma das medidas que toma, principalmente na transferência do Geromel, o Presidente tem um lado de gestor e um lado de vitoriano que lhe formula o desejo de continuar a contar com o jogador. Na fase actual do Clube, o que é que se sobrepõe? O gestor ou o vitoriano?
Existem três componentes num clube de futebol: gestão, parte desportiva e parte financeira. O segredo é equilibrar esta relação tripartida, sendo que o gestor tem que gerir o lado desportivo e financeiro. Nesse aspecto, acho que a Direcção do Vitória se tem portado à altura. Nós não conseguimos estabilizar financeiramente o Clube se o futebol for um desastre. É impossível atrair receitas se a equipa de futebol acumular derrotas atrás de derrotas. É preciso um equilíbrio muito grande entre todas estas áreas.
«Geromel foi um bom negócio»
Deixe colocar-lhe abertamente a questão. O Geromel foi um bom negócio para o Vitória?
Na minha perspectiva foi um bom negócio. O Geromel foi um jogador fundamental na época passada e é, de facto, um grande jogador de futebol. Mas o currículo dele antes do último ano era praticamente igual a zero. Nunca foi internacional, nunca jogou na Liga dos Campeões, tem um ou dois jogos na Taça UEFA e numa época em que o Vitória desceu. De concreto, o Geromel fez uma época num nível altíssimo. Para além disso, o Vitória tem a dimensão que tem e, embora seja já um clube enorme, não está ao nível dos grandes clubes europeus. Na minha opinião, o Geromel foi vendido por um valor que foi justo. Foi o valor que o mercado ditou pois para além da proposta do actual clube do jogador tivemos outras, mas todas inferiores. É evidente que se o jogador estivesse num clube com maior exposição seria transaccionado, não tenho dúvidas, por um valor muito mais elevado. E isso tem a ver só com a exposição internacional e mediática dos clubes. Agora, o negócio vale o que vale na ocasião. Podem dizer que o Geromel para o ano valeria mais, mas também poderia valer menos.
Ainda relativamente a este plantel, nota-se que a Direcção se mantém muito amarrada a um plano financeiro que foi estabelecido. Até que ponto é que o Presidente acha que no reforço da equipa este era o passo que se podia dar ou podia ter ido um pouco mais além? A esta distância, como é que o Presidente pensa que as coisas podem ser entendidas?
Tenho a certeza que nós fomos até ao limite das nossas possibilidades. Não podíamos, em termos financeiros, ir mais longe do que isto. E por isso é que temos feito alguns protocolos com vários clubes. Se tivéssemos dinheiro para comprar o queremos, podem ter a certeza absoluta que não faríamos protocolos com absolutamente ninguém. É sabido que o Vitória, na região, já fez um sem número de acordos. Fizemos com o Sandinenses, Maria da Fonte, o Vieira, o Palmeira. Fizemos agora com o Benfica, como estivemos para fazer com o Flamengo e o Chelsea. São protocolos que nos obrigam a ficar amarrados a algumas obrigações mas que nos trazem também grandes benefícios.
Voltemos novamente um bocadinho atrás. Relativamente ao Geromel, se tivesse sido transferido do Benfica para a Alemanha seria um valor substancialmente superior?
Não tenho dúvidas que seria por, pelo menos, cinco vezes mais. Lamentamos mas esta é a lei do mercado.
«Os interesses do Vitoria estão protegidos no protocolo com o Benfica»
O protocolo com o Benfica tem a ver com isso? Ou seja, tem a ver com a valorização do jogador noutro clube que possui uma projecção internacional diferente?
É evidente que também tem um pouco a ver com isso. Interessa-nos fazer parcerias com clubes de dimensão superior para que amanhã o Vitória seja um grande beneficiário dessas transferências. Falemos, por exemplo, do caso do Cafu. Estou a falar do Cafu como posso falar de outros. Mas neste caso específico, o Vitória viu inteiramente salvaguardados os seus direitos com a transferência do jogador para o Benfica. Sem entrar em grandes pormenores, o Vitória ficou com os seus interesses protegidos com uma percentagem do passe do Cafu numa futura transacção do jogador. Foi o que se fez com o Rabiola, em que o Vitória é dono de 50% do passe do jogador. Ainda sobre o Cafu, ficamos com a preferência sobre qualquer tipo de negócio que esteja relacionado com o atleta.
Porque não fez o mesmo com o Pelé?
O Pelé é um caso diferente. Já o disse várias vezes e volto a repeti-lo. O Pelé saiu do Vitória porque Manuel Cajuda entendeu que era um jogador dispensável. Aconselhei-me com o treinador e com o Departamento de Futebol nessa questão. Ainda hoje o mister Cajuda diz, se lhe perguntarem, que o Pelé não é um jogador que se enquadre na sua filosofia de jogo. Como tal apareceu uma proposta, porque era um jogador dispensável na altura, e nós vendemos o Pelé. Hoje, confesso, não estou minimamente arrependido por ter vendido o jogador. E, a propósito do que falamos atrás, veja-se que o Pelé valia no Vitória 1 milhão e por ter saído do Inter de Milão valorizou-se ao ponto de estar avaliado em 6 milhões de euros. Isto tem a ver com a exposição internacional dos clubes. A título de exemplo, ao abrigo do protocolo com o Benfica, nós podemos fazer parcerias na aquisição de um jogador. Como poderemos fazer com outro clube qualquer. Hoje, no futebol, temos de ser criativos no sentido de arranjar fundo de maneio para garantir a sustentabilidade dos clubes. De outra forma, não há qualquer tipo de possibilidade dos clubes sobreviverem só com o dinheiro dos associados.
Porque falharam os protocolos com o Flamengo e o Chelsea?
Simplesmente porque da outra parte, não existiu acordo para se fazer o protocolo dentro dos parâmetros que nós achamos indispensáveis. Queríamos um protocolo como o que fizemos com o Benfica, mas o Chelsea e o Flamengo não manifestaram interesse no acordo que propusemos. Não existiu o mesmo grau de comprometimento com os interesses do Vitória. Uma coisa é um protocolo, que é bom para os dois lados. Outra coisa é um protocolo que serve apenas para uma das partes assegurar as vantagens no negócio que decorrem da sua grandeza. Não podemos aceitar protocolos com outros clubes em que o interesse desses clubes não seja o de repartir os benefícios com o Vitória. O Benfica aceitou essa repartição, viu no Vitória o potencial certo para estabelecer um protocolo que divida entre os dois os benefícios desse acordo.
Admite e acha desejável que o Vitória faça, a partir de agora, protocolos, com clubes da mesma grandeza dos que foram agora enumerados?
Acho que quanto maior for a dimensão do clube em causa, para o Vitória tanto melhor. Estas parcerias não significam que o reembolso seja imediato, mas a médio e longo prazo o Vitória fica muito mais fortalecido com a realização destas mais-valias. Se não fosse este tipo de protocolos, provavelmente não estariam aqui o Nuno Assis e o Luís Filipe. Agora, que fique bem claro que o Cafu não foi a moeda de troca. Este protocolo com o Benfica foi analisado por mim, pelos Vice-Presidentes e pelo Director-Geral e só depois de totalmente estudado é que decidimos avançar. Não foi feito em cima do joelho mas sim com a convicção de que é o melhor para o Vitória e para o Benfica.
«O Vitória não precisa de alianças com ninguém»
De todo o modo, o Vitória consegue separar as águas, ou seja, protocolo com o Benfica ou outro clube é uma coisa, uma aliança é outra.? A ideia que muitas vezes se projecta nos meios de comunicação é a de que o protocolo resultou de uma aliança com o Benfica. Concorda com isto?
Não posso concordar e não posso deixar passar essa ideia. Não é correcto. O Vitória Sport Clube não tem alianças com ninguém. Cada clube tem a sua dinâmica, a sua orientação e se, conjunturalmente, os interesses dos clubes são idênticos, não é crime nenhum que possam lutar por esses interesses de forma concertada. Foi o que aconteceu no caso do TAS. Havia um interesse comum e os dois clubes lutaram por esse interesse. Mas gostava de recordar que, em simultâneo com essa luta no TAS, durante uma assembleia geral da Liga de Clubes, o Vitória e o Benfica votaram uma proposta de agravamento das penas por corrupção, de forma diferente. O Benfica era um dos clubes proponentes e o Vitória absteve-se na votação. E porquê? Porque era seu entendimento que a proposta devia ser mais estudada, ao contrário do Benfica que apelava à sua aprovação imediata. Isto é uma aliança? Não, não é. A direcção do Vitória foi mandatada pelos sócios do Vitória para zelar pelos interesses do clube, não foi mandatada para fazer alianças com este ou aquele clube. Fizemos um protocolo com o Benfica porque entendemos que esse protocolo defende os interesses do Vitória, defendendo também os interesses do Benfica. E os sócios devem compreender, como acho que a esmagadora maioria compreende, que o clube ainda está numa situação difícil, que o futebol actual é muito agressivo e para um clube com as nossas dificuldades financeiras é necessário estabelecer parcerias. Toda a gente o faz no mundo do futebol e quando se faz uma parceria com alguém é a pensar na valorização do produto. Este protocolo com o Benfica não significa uma aliança, assim como futuros protocolos que venhamos a fazer com outros grandes clubes não significarão alianças com ninguém. Significa que esta direcção procura ser criativa na forma como tenta assegurar receitas paraa estabilidade desportiva e financeira do clube. Há muitos modelos de financiamento da actividade desportiva que hoje estão esgotados e a direcção do Vitória não vai pode ficar parada, tem de ir à procura de receitas alternativas. É para isso que servem os protocolos.
O surpreendente terceiro lugar da época passada foi crucial para o clube consolidar a sua recuperação financeira. Até que ponto é que essa classificação veio criar expectativas que o clube ainda não esteja em condições de assegurar?
Eu gostava de, uma vez mais, enaltecer o trabalho realizado a época passada pelos jogadores, pela equipa técnica e também pela direcção. Mas especialmente pelos adeptos, incansáveis no apoio à equipa. E de todo o conjunto de pessoas que trabalham todos os dias no Vitória. Este trabalho está a produzir resultados. Existe uma união e uma atmosfera profissional e solidária, sem a qual não teriamos conseguido atingir o terceiro lugar. Neste momento o Vitória é um clube organizado e mesmo com uma equipa sem grandes vedetas, conseguimos boas classificações. Esta é a expectativa que podemos e devemos criar nos sócios e adeptos. Queremos fazer um campeonato à altura do prestígio e da grandeza do clube. Por isso é que peço aos jogadores e treinadores que a equipa possa ficar entre os primeiros cinco classficados. Mas gostava de acrescentar que peço, não exigo. Estou no futebol há tempo suficiente para saber que nem sempre conseguimos o que queremos. Mas esse é o nosso grande objectivo.
Como presidente do Vitória, dentro de si e do seu vitorianismo, não esconde o desejo de ganhar um título nacional, um campeonato, uma taça?
Sou presidente do Vitória mas não sou assim tão lírico. Neste momento o Vitória não tem condições para lutar pelo título. Continua a haver uma enorme desigualdade de meios entre os três crónicos candidatos ao título e, por exemplo, o Vitória. Mas também vos digo que o Vitória é, em Portugal, o clube que tem mais condições estruturais e de mobilização dos adeptos para se juntar a esses clubes na discussão de um título. Mas primeiro tem de resolver os seus problemas financeiros, para poder realizar investimentos mais significativos no reforço do seu plantel. Se conseguirmos atingir essa estabilidade, essa consolidação financeira,penso que em meia dúzia de anos, o Vitória pode lutar com esses três clubes pelo título nacional. Neste momento seria utópico. Por agora, o que mais desejo é que o Vitória se classifique entre os cinco primeiros lugares da Liga.
«Não contem comigo para hipotecar o futuro do clube»
Esse é o primeiro passo para a consolidação de que fala? Tornar o Vitória um clube constantemente europeu nos seus objectivos, sem queimar etapas no seu projecto de diminuir distâncias para os três clubes candidatos ao título de campeão?
Claro que sim. Esta direcção já deu provas de que não reage a impulsos exteriores, que não determina a sua acção por medidas populistas. Temos os pés bem assentes no chão que pisamos e sabemos que o Vitória, para chegar ao nível desses clubes, ainda tem várias etapas pela frente. A próxima etapa é estar sempre nos primeiros lugares do campeonato, estar nas competições europeias e depois, com a recuperação financeira do clube concluida, dar o salto. Há um coisa que os adeptos sabem e que eu sempre prometi e vou cumprir. Enquanto aqui estiver com a minha direcção, o futuro deste clube nunca será hipotecado. Este clube tem de ser gerido em função das receitas que gera. Lá está a questão do protocolo e da valorização de activos. Quanto maiores forem as receitas a que o clube possa ter acesso no futuro, maiores investimentos poderá fazer na equipa de futebol. Acho que isto não deve ser difícil de compreender. Não farei no Vitória o que outros fizeram noutros clubes, reagindo a impulsos de momento, lutanto por objectivos grandiosos sem ter a capacidade financeira de o fazer. Porque depois do sonho vem o desmoronamento. Temos vários exemplos em Portugal e o Vitória não será um deles. Pelo menos comigo e com a minha direcção. Temos de ter muito juizo a gerir o Vitória.
Mas não sente que o Vitória tem uma vantagem comparativa que é terrível em relação a esses clubes de que falou? A capacidade de mobilização dos adeptos, as condições infra-estruturais, como o centro de estágio – o primeiro em Portugal, ainda os outros nem sonhavam em construir academias ou centros de treino.
Compreendo e aceito o que diz. Mas a mobilização dos adeptos só se faz com resultados. Sem bons resultados, os adeptos sentem-se mais desanimados. É verdade que no Vitória, mesmo desanimados os nossos adeptos apoiam o clube, mas mesmo assim temos de ser cuidadosos no nosso crescimento. Queremos crescer, mas não queremos crescer tudo de uma só vez. E estamos a crescer. Há um ano e meio, quando tomei posse, o Vitória estava na segunda liga. Isto foi há ano e meio, não foi há dez anos. Há umas semanas atrás estávamos a lutar pelo acesso à Liga dos Campeões. Se isto não é crescimento, então o que é? Claro que para algumas pessoas isto é tudo muito fácil, agora o Vitória só devia parar quando ganhasse o campeonato. Por exemplo, a venda do Geromel. As pessoas podem dizer que a venda do jogador foi uma patetice, que o jogador faz falta à equipa. Isto é o mais fácil de dizer, porque é isso que as pessoas gostam de ouvir. Eu sei que o jogador faz falta, porque é um grande jogador. Mas como presidente do Vitória eu não sou apenas um gestor desportivo, sou, acima de tudo um gestor financeiro. E por isso senti que o clube tinha a necessidade de vender o Geromel. E só não vendi o Sereno porque não quis desmontar todo o eixo da defesa. Temos de ponderar bem as coisas. Acho que, apesar da venda do Geromel, não perdemos competitividade e apostámos na diferença. Contratámos outros jogadores, diferentes do Geromel, porque é muito difícil encontrar jogadores com as características do Geromel, e não ficámos, em minha opinião, com o plantel desvalorizado. E assim é que deve ser a gestão do futebol profissional do Vitória. Vender activos quando tem de vender e contratar jogadores com qualidade que o clube possa valorizar.
«Para o ano vamos arrancar com o projecto de uma equipa B»
Sobre o futebol e sobre a recuperação financeira do clube já aqui falámos com detalhe, mas em ano e meio de mandato, também nas modalidades amadoras se sentiu a gestão mais profissional e criteriosa desta direcção?
Acho que estámos a fazer um trabalho fantástico nas modalidades. Em apenas ano e meio conseguimos um título nacional, inédito no clube, no voleibol, uma taça de Portugal no basquetebol, subimos à primeira divisão no pólo-aquático e no ténis de mesa e lançámos a semente para um grande projecto de formação no atletismo. Foi também criada a secção de futebol de praia, temos uma equipa de futebol de veteranos, um recordista nacional na natação, duas internacionais de futebol de onze na equipa de futsal, um campeão de mundo e outro intercontinental no kickboxing. Para além dos títulos, o que está a ser feito nas modalidades é muito profundo. Criámos um gabinete das modalidades, que tem um director que gere tudo o que se relaciona com as modalidades, estamos a criar um departamento médico exclusivo das modalidades e está a ser implementado um projecto profissional para as modalidades que descreve os objectivos e tudo o que se relaciona com a actividade desportiva do clube. O orçamento é assegurado a 90 por cento pelo clube no voleibol e no basquetebol e a cem por cento nas restantes modalidades, porque a gestão de toda a actividade desportiva do clube passou a ser do clube e não de secções autónomas. Podemos dizer que a época passada foi o ano menos um das modalidades e este será o ano zero. Pretendemos implementar uma nova forma de gestão, mais profissional nuns casos e mais direccionada para a prática desportiva dos nossos adeptos e sócios noutros. E de lembrar que este ano o Vitória será o primeiro representante português na Liga dos Campeões de Voleibol, num esforço conjunto desta direcção e de alguns sponsors que ajudam a financiar esta participação histórica do clube numa prova tão importante. O que eu gostaria de destacar é que também nas modalidades amadoras o crescimento do clube está a fazer e sente-se todos os dias.
Podemos considerar que a profissionalização de que fala é a pedra de toque da evolução organizativa do clube?
É absolutamente fundamental. Hoje o Vitória continua a profissionalizar os seus departamentos. Se o tivesse feito há mais tempo, talvez o clube não tivesse descido de divisão, talvez o clube não andasse no sobe e desce destes últimos anos, em que a um época boa segue-se uma péssima. Esta é a estabilidade de que falo e que o Vitória precisa. Isso passa pela crescente profissionalização dos vários departamentos do clube. E vamos continuar a fazê-lo. E veja que, do conjunto de promessas que constavam do nosso programa eleitoral, está praticamente tudo feito. O clube está reorganizado, o sintético que prometemos está na fase dos acabamentos, a loja das Taipas está feita, a sala de troféus está concluida, a renovação da frota de viaturas do clube está realizada. Hoje, olhámos para os autocarros do clube e sentimos orgulho, porque dignificam a imagem do clube. E tudo isto são investimentos que o clube teve de fazer e que custam dinheiro. O que falta fazer de tudo aquilo que prometi no meu programa eleitoral são os dois pavilhões e uma piscina, que já estão na fase de projecto e que tentarei concretizar assim que se consiga arranjar os financiamentos para essa obra tão importante para o clube e para o seu crescimento. Teremos de candidatar essa obra a financimanento comunitário, através dos fundos europeus e tentaremos iniciar a construção deste projecto ainda no próximo ano e meio de mandato.
Para terminar, sabemos que gostava de dar uma novidade aos sócios e adeptos do Vitória...
Gostava de anunciar a implementação de um outro projecto desportivo, desta vez ligado ao futebol de formação do clube. Na próxima época vamos arrancar com uma equipa B, para oferecermos aos nossos jogadores de maior potencial que saem das camadas jovens mais uma etapa da sua formação. Ponderamos a possibilidade de o fazer esta época, mas com o actual quadro competitivo não seria recomendável fazê-lo, até porque é um projecto que custa dinheiro ao clube. Como temos informaçõs de que o quadro competitivo deve mudar, esta direcção entende que será de grande utilidade para os nossos jovens e como forma de se valorizarem, a criação de uma equipa B, onde caibam os jogadores de talento das nossas escolas e outros que o Vitória pode contratar, através da sua prospecção. Jovens talentos que o clube vai formatar para o seu plantel profissional, dando-lhes a possibilidade de crescer na equipa B, num ambiente competitivo que os prepare para o salto das suas vidas, para o plantel principal do Vitória. É um grande projecto, mais um, que pretende seguir o mesmo caminho de todas as outras medidas que foram tomadas por esta direcção, desde que foi mandatada pelos sócios. Organizar e engrandecer o clube.
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